terça-feira, 13 de novembro de 2012

Quartel Perpétuo

1/04/11
Quartel Perpétuo
Ela era uma jovem linda. Tinha tudo para ser feliz. Qualquer pedido seu era atendido na hora, como se fosse uma princesa da realeza.
Já estava mal acostumada, mas foi criada deste jeito, o quê ela podia fazer? Reclamasse para seus pais que a mimaram desde o berço. Aguentem com a consequência se assim dela fizeram.
Todos os rapazes queriam tê-la em seus braços. Mas ela não queria nenhum deles. Talvez estivesse procurando um príncipe encantado ou já tinha encontrado e não queria apresentá-lo, por causa da reação de seu pai ou queria ficar no caritó, ou seja, sozinha. Cada um segue o seu caminho que traça.
Era a menina dos olhos de seus pais, principalmente de seu pai, que a via como a miniatura de sua esposa, quando por ela se apaixonou.
De repente, sua vida encantada mudou radicalmente da “água pro vinho” ou “vinho pra água’. Ela foi colocada presa no calabouço do “Quartel do Passeio Público”, pelo próprio pai. O quê ela tinha feito para merecer este castigo?
O sonho alado transformou-se em inferno calado.
Para chamar atenção, chorava, esperneava, gritava, ameaçava de se matar, mas não havia um herói para resgatá-la desse suplício.
Quando aparecia alguém, era só para alimentá-la, mas não havia palavras de conforto. A tristeza era tão grande que ela não comia, bebia e nem se penteava. Ela não tocava na comida, ficando fraca até desmaiar. Ela era reanimada e quando recuperava os sentidos, logo se abandonava à sua solidão.
Parecia uma “bruxa” de dar pena. Se pelo menos soubesse fazer feitiço para escapar dessa prisão que lhe impingiram. Nem isso era capaz. Estava sozinha no mundo, sem amigos, família. Disseram aos conhecidos que ela viajara. E cada informação era diferente uns para os outros para dificultar o seu paradeiro. Hora ela estava na America Central, América do Norte, Europa, Africa, China, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. O quê ela tinha feito de tão grave que merecesse esse castigo?
Tentava fugir, mas era ameaçada por uma espingarda, assim recuava e era mais uma vez encarcerada.
O pai, coronel do quartel, abandonou-a a “Deus dará”, como se fosse sua inimiga. Tinha esquecido que era a filha que tinha criado com todo mimo e amor.
Só ficava sabendo do seu estado deplorável, através dos relatos de seus soldados. Não se incomodava, pois achava que a filha estava se fingindo de coitadinha. Ela merecia esse corretivo. O quê ela tinha feito de tão grave que merecesse esse castigo?
. Mas a verdade era que a cada dia ela definhava: não tinha mais força para chorar, nem reclamar. Estava inerte à sua tortuta. Adormecia de cansaço.
Até sonhava que estava livre no seu Castelo Encantado. Ledo desvario, pois, quando acordava, retornava ao pesadelo real.
 Foi assim até o último dia de sua vida. Só saiu de lá, direto para o jazigo da família.
Esta história foi contada de pai para o filho até o dia de hoje. Havia sol, chuva, estrelas, lua e o cantar dos pássaros como companhia, mas eles não entendiam o quê estava acontecendo com aquela jovem tão linda e desprezada que não tinha liberdade para seguir seu caminho, fosse ele qual fosse: direito, errado, norte ou sul, como se ela tivesse cometido um crime sem direito à “liberdade condicional”, ou era animal selvagem encarcerada numa cela ou jaula. Mas nesse caso, era no calabouço, sem defesa.
Estava totalmente incomunicável. E quem se atrevesse resgatá-la estaria em maus lençóis, podendo ser até expulso do quartel, sem chance de seguir sua carreira na marinha, exercito ou aeronáutica. Tinha que ser direita, esquerda, dando continência Sim, Senhor ,Coronel.
Caso contrário, eram todos presos em outro quartel bem longe da jovem prisioneira, que todos queriam em seus braços, mas tinham medo da reação do Coronel, que era mandante da prisão injusta da jovem.
 O motivo da condenação foi passado de boca em boca, sendo interpretado como os ouvidos escutavam, confundindo os historiadores.
 A verdadeira história está enterrada nos túmulos dos pais e da própria jovem.
 Esta história se parece com o conto “Venha ver o pôr-do-sol” de Lygia Fagundes Telles. (Brasil, 1923). Será que o pai se inspirou nesta história ou foi Lygia Fagundes Telles que inspirou ou conviveu com a jovem.? "Venha ver o pôr-do-sol" é um conto com dois personagens: Ricardo e Raquel. Um é o vilão e a outro a vítima. Ricardo não aceitando a separação, resolveu enterrar viva, Raquel, sua paixão doentia. As duas histórias se parecem, enquanto no Quartel do Passeio Público, o mandante da prisão era o pai e, em “Venha ver o pôr-do-sol”, o executor do plano maquiavélico era o próprio ex-namorado. Os dois enredos foram coincidência da vida ou pura ficção? Será que o pai da jovem leu “Venha ver o pôr-do-sol”? Ou foi a Lygia Fagundes que soube desta história e inspirou-se para escrever: “Venha ver o pôr-do-sol”? Felizmente, ela está viva e pode responder como se inspirou para escrever esse conto. Adriana Quezado


Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus 2012.
IX PRÊMIO LITERÁRIO VALDECK ALMEIDA DE JESUS – REDAÇÃO E POESIA
Selecionada

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Aniversário 23/10

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Cadeira Preguiçosa

26/03/11

Cadeira Preguiçosa
A cadeira tinha mais de 100 anos. Comparo-a à rede de Jorge Amado. Passou de mão em mão, como herança. A herança literária de Jorge. A palha estava desgastada pela idade e uso. Foi trocada, deixando-a nova, como recém-nascida, assim como toda a vida de Amado.
Mas, como ela balançava como se fosse nova, continuava a ser utilizada pelas crianças e até adultos (magro gordo e obeso). Todos queriam seu aconchego.
Um dia, ela não estava mais aguentando tanto peso sobre ela, começando a ranger: “ai, ui, ai, ui, ...” , sendo diagnosticada doente com preguiça “crônica-aguda”.
Sendo assim, continuou sua vida de balanço em balanço, suportando todos os pesos, alternando com os leves e intensos gemidos.
Até que um dia, ela se revoltou. Arrebentou seu lado esquerdo tão repentinamente que quase levou sua dona pelos ares.
Agora a cadeira está aposentada, sem serventia, encostada no lado direito ou esquerdo, à espera de um novo diagnóstico. Diferente da vida do querido e saudoso escritor baiano, Jorge Amado, que foi útil e intensa do início, mas sem fim.
Baiano ou nordestino que se preze adora um aconchego de uma rede ou cadeira de balanço. Ótimo lugar para inspirar os escritores em uma nova história. Não é à toa que Jorge Amado escreveu o livro: “Terra do Sem Fim”, em que a Ester, sua personagem ficava numa rede pensando em seus medos, desamores e em sua vida.

 Adriana Quezado
Selecionada
VII Prêmio Literário Valdeck Almeida De Jesus

 
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domingo, 3 de junho de 2012

Cabelo Melado de Gabriela

02/10/11
Cabelo Melado de Gabriela
Duas amigas matutas não gostavam de seus cabelos por serem muito volumosos, parecendo até perucas, tamanho era o volume. Uma delas receitou mel para a outra, objetivando baixar o volume. Dizia que ficava lindo, mas esqueceu de explicar o tratamento passo a passo. A amiga ficou tão feliz, e já imaginava o sucesso que faria com o novo cabelo baixinho e com os elogios que receberia. Ao invés de lavar os cabelos com xampu, passou mel por todo o couro cabeludo e em seguida, amarrou-o com um lenço, pois queria fazer uma surpresa. Assim, ela passou o dia e a tarde. De noite, estava com tanto sono que foi dormir, sem lavar os cabelos. De madrugada, deu um grito estarrecedor, como se alguém a estivesse matando.
Não era alguém, eram as formigas carpinteiras ou Sará-Sarás de nome científico: Camponotus SSP, pior: comendo-a viva, sem dó e sem piedade. Estavam se deliciando com o doce mel de seu corpo. Amigos e familiares não souberam identificar, de imediato, o que estava acontecendo. Deram-lhe banho, indo as formigas todas para o ralo. Depois do banho, a moça foi dormir aliviada. Sonhou que era uma formiga gigantesca, que todos queriam matá-la, inclusive as outras formigas amigas, que ficaram com medo de seu tamanho, já que a média era de 17 mm de comprimento e as menores de 3 mm. Acordou; tomou outro banho até tirar o vestígio do mel. O resultado final do cabelo ficou como ela queria, mas, mesmo assim, nunca mais experimentou nenhum outro tratamento espantoso, bastando o pesadelo real pelo qual passou.
Qualquer mel ou produto com essência de mel, ela dava um grito agonizante, tão grande era seu trauma melado. Quando ganhava presente que tivesse mel na história, encaminhava para outro aniversariante. Hoje em dia, só faz tratamento no cabeleireiro ou se compra produtos no supermercado, sem mel na composição.
Em qualquer lugar do mundo, seja em Angola, Brasil, Cabo Verde, Inglaterra, México, Moçambique, Portugal, Canadá ou Japão, sempre há um ser humano que gosta de seus cabelos lindos e maravilhosos para serem chamados de seus. Para isso, existe xampu para todo tipo de cabelo.
Não é à-toa que os famosos como Jorge Amado, Castro Alves e outros tinham belas cabeleireiras de chamar a atenção. Não foi em vão que Jorge Amado escreveu o livro Capitães de Areia, em que, Pedro Bala, um de seus personagens era um grande líder. Tinha os cabelos loiros e uma cicatriz de navalha no rosto, fruto da luta em que venceu o antigo comandante do bando. Seu pai, conhecido como Loiro, era estivador e liderara uma greve no porto, onde foi assassinado por policiais. Escreveu, também, o romance Gabriela, Cravo e Canela, no qual a heroína título era uma jovem matuta de roupa de chita com corpo escultural e linda cabeleira, e que, mesmo sendo simples, era valente e sabia muito bem defender-se.
O tratamento capilar, ela não revelava de jeito maneira. Talvez fosse com cravo, canela e mel. Este segredo só com Jorge Amado e sua esposa Zélia Gattai, que muitas vezes revisava as histórias de Jorge, mas infelizmente, ambos são falecidos e os seus segredos estão enterrados nos respectivos túmulos. Cabe a nós experimentar fórmulas mirabolantes ou comerciais até descobrir quais mais se adaptam ao nosso tipo de cabelo.   Adriana Quezado

Selecionada

VIII Prêmio Literário Valdeck Almeida De Jesus

 

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